À VOLTA DO LAGAR
Centenas de sacos de azeitona tinham acabados de ser amontoados no largo do lagar, iluminado por uma potente lâmpada cercada de mosquitos e borboletas.
Era ali o ponto de encontro dos louriceirenses, talvez por ser o único ponto da terra que dispunha de luz elétrica, graças a um potente motor que fazia mover toda aquela geringonça do lagar.
O rapazio, em gritaria, jogava ao "rabo de porco".Os homens continuavam a discutir a guerra entre os alemães e os aliados ou o futebol do Benfica e do Sporting.
Lá dentro, os mais idosos juntavam-se em redor da fornalha torrando bolotas que comiam com figos secos (muitas vezes o seu jantar) enquanto se entretinham a ver rodar as móz que esmagavam a azeitona e os lagareiros, atarefados, enchendo as seiras de massa que havia de ser espremida na prensa para separar o azeite do bagaço e da almofeira.
Na noite fria e escura luziam estrelas por entre nuvens grossas e um dos lagareiros, com um funil de largas dimensões, calcorreava as ruas esburacadas, por entre pedras e estrumeiras, apregoando os nomes dos donos das moeduras que tinham acabado de ser feitas.
Findo o serão, passado em volta do lagar, os homens regressavam a casa, onde os rapazes já dormiam e as mulheres os aguardavam, entretidas na escolha das azeitonas que, depois de separadas da rama, eram selecionadas para a conserva e que no próximo ano haviam de ser, muitas vezes, o conduto das refeições.
1997 JLS
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