O filho do meu vizinho casou e quis construir uma habitação mas o PDM indeferiu o requerimento. Eu, como não tinha nada a ver com o assunto, calei-me.
Depois fecharam o Posto Médico e eu, porque não estava doente, não fiz caso. A seguir fecharam a creche e o Jardim de Infância e eu, como não tinha crianças, calei-me. A par disto levaram a Escola Primária e eu, como não tinha filhos em idade escolar, não fiz caso.
Seguidamente fecharam a Junta de Freguesia e eu, como não tinha nada lá nada a tratar, calei-me outra vez.
Mais tarde levaram-nos o carteiro mas como eu quase nunca recebia correspondência, não me importei.
Depois cortaram o telefone fixo mas como eu tinha só de vez em quando linha porque todas as semanas roubavam os fios, não fiz caso.
Um dia acordei e não tinha Água nem Luz. Saí à rua (que só tinha casas abandonadas e degradadas), levei a trás de mim uma matilha de cães esfaimados e fui respirar fundo ao Cabeço da Pena. De lá avistei Alcanena a transbordar prédios novos. Voltei e, ao passar no largo da Saudade, olhei o cemitério e lembrei-me de nunca ter feito caso dos outros e de, quando morrer, não ter ninguém que me leve ao cemitério.
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